Gabriel Antônio Martins tinha 9 anos de idade e morava em Franca, interior de São Paulo. Jaqueline Resende dos Santos de Almeida tinha 14 e era da Bahia. Com intervalo de apenas um mês, as duas crianças se despediram da vida quando estavam se divertindo dentro da água. Morreram em circunstâncias parecidas, vítimas dos sistemas de sucção das piscinas onde nadavam. Tais mortes, que se acumulam a cada ano em todo o mundo, poderiam ser evitadas com cuidados muito simples, tanto por parte de quem constrói e mantém uma piscina – clubes, hotéis e mesmo particulares – como por parte dos fabricantes de equipamentos como ralos e bombas hidráulicas. Embora não sejam as únicas vítimas, as crianças têm sido as mais atingidas por acidentes como esses, quase sempre com finais trágicos.
Um dos casos mais conhecidos no Brasil é o de Flávia, que está em coma vigil desde que se acidentou na piscina do prédio onde morava, em Moema, zona sul de São Paulo, onze anos atrás. A mãe, Odele Souza, conta que Flávia, então com 10 anos de idade, desceu do apartamento para a área de lazer do prédio, na companhia do irmão de 14 anos, para nadar na piscina, cuja profundidade máxima era até pouco abaixo dos ombros da menina. Dentro da água, ela teve os cabelos sugados pelo ralo de fundo da piscina. Ao ser retirada de lá, ela já apresentava lesões cerebrais que a levaram ao coma irreversível. “Minha filha vive, desde então, à margem da vida. Decidi transformar essa dor, que está tatuada na minha alma, em algo produtivo. Por isso criei o blog ‘Flávia Vivendo em Coma’ (www.flaviavivendoemcoma.blogspot.com). Um dos principais objetivos é alertar as pessoas sobre os riscos que os ralos de piscina podem representar. Meu desejo é evitar que mais tragédias como essa, que destruiu a vida de minha filha, e também a minha, continuem acontecendo”, declara.
No caso de Flávia, o acidente aconteceu pelo fato de o ralo estar superdimensionado. Os moradores do prédio onde ela morava haviam decidido aquecer a água da piscina e, para isso, substituíram o equipamento de sucção, que tinha motor de 0,50 cv (meio cavalo-vapor) por outro com o triplo de potência. De acordo com o laudo técnico emitido após perícia, determinada pela Justiça, essa potência seria adequada para uma piscina de 104m3 de água, e não para uma de 43m3, como aquela na qual Flávia se acidentou. A superpotência estava 78% acima do admitido. “A troca foi feita pelo prédio sem orientação ou supervisão técnica.” Odele processou o condomínio e a empresa fabricante do equipamento de sucção. O resultado do processo saiu na primeira semana de março deste ano, dez anos depois de iniciado na Justiça. O fabricante foi inocentado, mas o condomínio foi considerado 100% responsável pela tragédia.
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